Fittsherck Membro
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| Assunto: [As terras arrasadas] - Segundo ensaio Seg Abr 08, 2013 7:05 pm | |
| Como já sabem, tenho um trabalho fixo, mas quando surge inspiração, não dá pra segurar. Assim, disponibilizo um segundo ensaio sobre o projeto das terras arrasadas, que está ligado ao meu atual trabalho. Aqui eu fujo da narrativa em forma de diário assumindo uma perspectiva em terceira pessoa, porém, procurado não perder a pessoalidade e empatia da narrativa em primeira pessoa, já que o narrador age como uma voz consciente que hora está dentro e hora fora da personagem. Este projeto específico, será escrito desta forma, uma vez que não se trata da mesma personagem que escreve o diário exibido no primeiro ensaio sobre as terras arrasadas. Espero que gostem e não deixem de opinar. Essa é para você...- Spoiler:
Tenta mais uma vez, estica o braço ao máximo, mas o graveto é curto demais. Já faz vinte minutos que ela tenta alcançar aquela caixa. Como foi parar ali? A grade que a separa do tentador objeto não pode ser removida. Foi feita apenas para evitar que grandes destroços caíssem na galeria principal, que há décadas não vê água. A caixa só pode ter sido arremessada por alguém. Ela lembra de ter visto este produto a venda uma dúzia de vezes. A embalagem é branca com uma logo rosa, com certeza não é da pré-guerra e talvez ainda esteja dentro do prazo de validade.
Com que frequência isso acontece? Parece até um presente divino, chegado em muito boa hora, mas ela já tentou de tudo e não consegue alcançar. Usou o rifle, gravetos e até uma corda.
A caixa está muito longe.
Sempre que pensa em desistir, acaba voltando. Sua situação é tal qual o pensamento começa a se tornar mais reativo, menos racional. Porém, é preciso raciocinar se quiser vencer mais este desafio. Faz dois meses que sua mãe entrou em coma diagnosticado irreversível e ela fugiu para a terra arrasada deixando o seu padrasto louco. No fundo queria provar a si mesma, ser capaz de sobreviver aos pesadelos desta região. E tem feito muito bem até entrar nesta galeria fluvial e encontrar uma caixa de leite.
Deveria ser simples, mas não é. Quase como uma forma que o planeta tem de dizer que aqui nada é fácil.
Ok! Mensagem recebida.
Os recursos disponíveis não tiveram resultado individualmente. Era hora de testa-los combinados. Assim, foi preciso cortar a corda, amarrar a ponta do graveto no cano do rifle, fazendo uma espécie de gancho e amarrando a segunda parte na coronha para puxar de volta.
Agora vai...
Estica o braço, mas ainda não dá. Mas talvez, empurrando com a perna seja possível, quem sabe? Ela tem altura acima da média das meninas de sua idade, mas mesmo esticando a perna para através da grade, empurrar o rifle galeria adentro, não conseguiu.
Não é possível. Falta tão pouco... Pode ser que empurrando com um pedaço de pau, seja possível alcançar.
Então vá buscar.
Sai da galeria em plena luz do dia, desarmada, a procura de algo mais longo que sua perna. Não pensa na péssima ideia que teve, mas ela está com fome, então vamos dar o crédito.
Achou muitos gravetos, todos curtos demais, e a quantidade de corda não dava para uni-los. Mas eis que surge, encostado em uma parede de um quintal abandonado, uma vassoura. Madeira apodrecida, mas vai servir.
De volta a galeria, termina de empurrar o rifle, engancha a caixa no graveto e com a corda amarrada na coronha, puxa pacientemente, todo o conjunto. Uma linda caixa. Limpinha, quase sem amassados, ainda com a etiqueta de preço. Está fora da validade, mas não faz nem um ano ainda.
Basta abrir e deixar o líquido descer pela garganta. Essa é pra você, mamãe.
Ela ficaria orgulhosa.
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