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| Assunto: O Impuro - Renascer [12] Qui Dez 27, 2012 11:21 am | |
| Título: O Impuro - [12 anos]. Autor: Filipe de Oliveira Mendes (FilipeJF) Olá a todos. Trago-lhes meu último trabalho em constante desenvolvimento, que pretendo escrever somente para mostrar melhor o mundo que estou desenvolvendo - Eoghar. Deixarei um textinho com algumas explicações básicas do mundo - embora haja muuuuitos outros que ainda escrevo - e espero que gostem. O Grande Início:- Spoiler:
Acredita-se que, no princípio, os primordiais viviam em Eoghar. Era a primeira forma de vida criada pelos Deuses Éléazar, o Senhor do Dia, e Esténe, o Senhor da Noite. Dos diversos traços celestes que tinham, os primordiais destacavam-se principalmente pelas grandes asas que possuíam. Seus cabelos sempre eram brancos, e os olhos, dourados. Além da aparência celeste, tinham também descendência divina - o que os permitia o uso da energia nomeada magia. Aparentemente, ela nada mais era que algo inofensivo. E durante muito tempo, a paz reinou. E assim foi até onde os seres de atualmente chamam de Grande Início. Um primordial chamado Aleaumin aprendeu a utilizar a magia, porém de forma sombria. Como era parte da raça com mais descendência divina, acabou por aprender feitiços que nenhuma outra raça que veio posteriormente seria capaz de realizar. Um deles foi o qual levou Aleaumin ao topo. Um dia levou à terra vários primordiais para realizar sua maior criação. Utilizou a magia contra todos eles, e durante uma duradoura batalha, acabou por vencer e exterminar a grande maioria deles com seu feitiço único de magia negra. Mas os sete que sobreviveram, ficaram incapacitados: perderam as asas e tiveram grande parte da energia mágica retirada do corpo. Mas tinham algo que decidiram chamar de benção: a imortalidade; a magia mortal utilizada por Aleaumin acabou por dar-lhes essa vantagem. Esses setes sobreviventes adotaram um novo modo de vida, na terra, e nomearam-se ignis: uma palavra que significa sábios em galar (hoje uma língua quase extinta, ou já extinta). Decidiram, a partir daquele evento, que a magia era algo ruim. Mas isso os primordiais jamais entenderiam. E Aleaumin continuou com seus atos tenebrosos. Com sua grande quantidade de seguidores, iniciou uma grande guerra que mudaria o rumo de toda a raça. Na grande árvore Alazaïs, onde no topo viviam todos os primordiais, ele junto com seus companheiros exterminou todos os que não se uniram a si, entretanto, no fim, nada saiu como esperado. O Imperador Primordial, Aliaume, deu sua vida à destruição de Aleaumin. E ele conseguiu. Mas ao invés de apenas matá-lo, acabou por destruir a árvore e exterminar toda sua raça; pelo menos isso era o que os ignis disseram. E este foi o Grande Início. Alguns anos depois, chegaram àquela terra os humanos, que rapidamente confrontaram os ignis numa guerra que ficou conhecida por Guerra do Domínio. Ela durou longos cinco anos e, no fim, terminou com a vitória dos humanos. Os ignis foram obrigados a recuarem para as Terras Antigas, que se tornou a parte do continente dominada pela raça. No dia em que a guerra terminou, os humano deram início à vida naquele novo lugar, que por fim chamaram de Eoghar; uma palavra que vinda do galar significa mundo. E assim foi o início do primeiro ano. Mas após alguns anos, os humanos desafiaram um inimigo há muito desaparecido dos ignis: os gnows. Eles eram humanoides masculinos, roxos e de orelhas pontudas, que não possuíam menos de um metro e setenta. O rosto, ao invés de ter o exterior do nariz, somente tinha as narinas presas em si. Em ambos os braços tinham uma forte camada de pelo, semelhante ao couro, que podia proteger-lhes até do corte de uma espada. Eram semi racionais, mas conseguiam falar - um pouco - e eram brutos e extremamente fortes. Quando a linhagem de sangue da família real foi quebrada durante uma batalha feroz com os gnows, os humanos separaram-se em três distintos reinos, cada um com a própria história; embora mesmo assim, o Reino Único, chamado Alestan, que fora o primeiro, permaneceu de pé. Portanto, com o reinado do melhor amigo do rei. Os outros dois reinos, assim como Alestan, receberam o nome dos primeiros reis: Enion e Gaenor. Após os gnows serem vencidos por estes bravos guerreiros, eles recuaram para a Cordilheira Cinzenta, de onde eles não ousaram sair. E a vida em Eoghar, continuou.
O Prevalecer da Magia:- Spoiler:
A Extinção e os Protetores
Quando os Deuses deram vida aos primordiais, imediatamente os abençoaram com a maior força que um ser não-divino poderia ter: magia. Com a energia espiritual dentro de si, poderiam realizar feitiços fracos aos mais devastadores. Mas, infelizmente, muitos buscaram explorar o lado negro da magia e, por fim, isso resultou na extinção dos primordiais. E mesmo que os ignis pudessem odiá-la, sabiam que ela fora o que lhes deram vida. E nem todos os ignis podiam usá-la - muitos não tinham energia espiritual suficiente e acabam por morrer. O mesmo servia para os humanos, que nunca quiseram aprendê-la. Mas um dia, um grupo de magos, formado com ignis e humanos, iniciou um ataque devastador em todo o continente. Milhões de vidas foram perdidas, e exércitos inteiros derrotados por poucas pessoas. E num desespero, os três reinos formaram um acordo de paz. Os reis, após horas de discussão, acabam por tomar uma decisão: acabar com a magia; deviam destruir todos os objetos mágicos e todos os magos, sem piedade. E em menos de quatro anos, tudo relacionado a ela estava destruído. Exceto por um livro... Uma irmandade formou-se para proteger a existência da magia. Nomearam-se Guardiões. Embora fosse um grupo pouco falado no continente, eles carregavam consigo o último objeto mágico, com total proteção. Portanto, enquanto atravessavam a pequena Floresta do Silêncio, o livro acabou por cair naquele local. E enfim, foi perdido. Anos se passaram, até que boatos começaram a surgir sobre um suposto feiticeiro. Para provar, cavaleiros enviados pelo rei foram à floresta e lá obtiveram a resposta: a magia havia renascido.
As Runas
Além do livro guardado pelos Guardiões, os ignis também não puderam deixá-la desaparecer do mundo. Os delions, seres humanoides de mais de um metro e noventa e com a pele tão dura quanto à pedra, viviam em profundas cavernas, ao lado somente da picareta. As mulheres não cresciam tanto quanto os homens, e portanto alcançavam no máximo um metro e setenta. Eles conseguiam sobreviver mais de um mês sem quaisquer tipos de comida, e, por conta disso, não tinham necessidade de sempre sair. Afinal, não gostavam da luz do dia, embora outras famílias de delions tivessem adotado o modo de vida fora de cavernas. Mas fora na mão dessa raça que os ignis deixaram prevalecer a magia. Em pedras, eles selaram diversos feitiços. E dizendo a palavra certa, o portador da rocha faria dela sair o tal feitiço; mas isso caso sua energia espiritual fosse grande o bastante. Os delions, que desde sempre tiveram um acordo de paz com os ignis, aceitaram de bom grado guardar as pedras, que foram nomeadas de runas.
E assim prevaleceu a magia.
Capítulo 1: A Viajem Obrigatória- Spoiler:
Sobre uma lagoa havia uma cidade. Não sobre uma lagoa onde sequer cabe uma casa, mas numa lagoa imensamente grande. A província lá feita acabou sendo batizada com o mesmo nome, Aelgar. Embora fosse um belo lugar, os seres chamados ignis, uma raça semelhante aos humanos mas de grandes orelhas pontudas, não o viam assim. Todos os ignis que nasciam ruivos ou morenos deviam ser enviados para lá, até que realizassem vinte anos e suas impurezas fossem retiradas. Somente os que nasciam de cabelos brancos e olhos dourados eram vistos como bons; então poderiam viver na terra natal. Infelizmente, o jovem Aldun Grimbald nasceu de cabelos negros e olhos castanhos. Desde quando fora enviado para Aelgar, jurou solenemente que jamais iria voltar à cidade natal. Seus pais, Sra. Swale e Sr. Tassart, sequer tentaram protegê-lo. Mas Aldun também via-se com um grande problema - não alcançou um metro e oitenta como a grande maioria dos ignis, somente chegou a um metro e setenta e cinco. Como isso era a altura de uma mulher, teve sempre de aturar comentários de outros ignis ruivos e morenos. - Você nunca será puro - disse-lhe um dia o Grande Mestre Alberi, lorde de Aelgar. Mas ele não se importava. O último dos sete imortais, Arcebaldus Godun, era um ignis moreno. E todos os outros seis tinham cabelos brancos - uma prova de que nem sempre ser puro é a melhor solução. E o jovem Aldun faria dezenove anos em breve, assim sairia pelo continente e viajaria para lugares jamais contemplados por seus olhos. Mas para sua desgraça, isso nunca foi possível. Um dia, visitantes humanos chegaram à cidade de Aelgar. De imediato foram surpreendidos com as pontes debruçadas que se estendiam ao longo de toda lagoa, com as mais diversas e distintas casas construídas lado a lado em pequenas ilhas. O primeiro a recebê-los foi o honorário Lorde Alberi, que ficou extremamente feliz com a visita. Era um grupo de cinco homens, todos bem trajados com casacos de couro sob uma camada de pano fino. - Estamos à procura de um ignis, Sr. Alberi - disse o único cujo trajava-se com uma capa marrom. - Nós estamos nos preparando para uma jornada e devemos arrumar o sétimo membro. Ali estavam cinco, mas aqueles homens sérios provavelmente tinham alguém mais importante à espera do outro lado da Cordilheira Cinzenta. Como Alberi era um homem pretensioso, já soube exatamente quem iria enviar: o pobre Aldun Grimbald que nunca sequer saiu das Terras Antigas. Mas agora, isso iria mudar. E numa manhã de agosto, chegou à casa de Aldun Grimbald o grupo de cinco homens. Bateram na porta tantas vezes que o pequeno ignis foi capaz de sentir a casa tremer. Correu até a porta, apressado, e levantou a pequena cortina que escondia a janela para verificar quem era e destrancou todas as fechaduras. Os homens abriram a porta num estrondo, e todos os cinco entraram juntos de uma só vez. Vinha por trás o mal e odiado Lorde Alberi, que fez questão de sorrir e mostrar a Aldun que um sofrimento estava prestes a iniciar. - Senhores, este é o ignis - disse ele. - Preciso apresentar-lhes futuros companheiros, Sr. Aldun - e entrou na pequena casa sem ao menos pedir licença, assim como fizeram os homens. "Mal-educados" murmurou Aldun. Mas como era sempre muito educado e generoso, fez questão de mostrar bons exemplos a eles: - Sentem-se, por favor. Trarei bebida e comida - e retirou-se para a cozinha. Encheu diversos copos de água - era sua bebida comum - e colocou-os sobre duas bandejas; e para os visitantes não reclamarem de jeito nenhum, colocou vários pães ignis para acompanhar. Levou tudo com muita bondade para à mesa, porém os homens não importaram-se, e muito menos tocaram nos alimentos. E de repente, um deles começou a dizer: - Sr. Aldun Grimbald. Permita-me nos apresentar: eu sou Elduin, mais conhecido como Eld; aquele com a capa marrom é Baldwin; o outro com o machado nas costas é Uhtred; aquele com barbicha é Ulric; e o último é Godard - ele ergueu o braço sobre a mesa onde todos estavam reunidos. - E nós estamos com fome! Queremos comida de verdade, não água e este pão duro como pedra. O pobre ignis entreolhou Alberi - pelo menos a pessoa que lhe odiava aceitara de bom grado a comida. E nervoso como nunca, perguntou: - Me diga: que tipo de alimento vocês gostariam de comer? - Cerveja - disse Baldwin. - Não é de comer, mas é bem melhor. - Fico grato com pão de verdade - disse Godard. - Não, eles não sabem o que dizem - disse Uhtred, piorando a situação de Aldun. - Peixe seria mais apropriado. - Peixe ou carne de porco - sugeriu também o silencioso Ulric. - Mas carne de galinha também serve. Elduin, aparentemente constrangido após a reação repentina dos companheiros, disse com educação: -Desculpe-me por isso, Sr. Aldun. Se puder trazer-nos somente vinho, ficaríamos grato. O ignis escutou-o e assentiu - estava impressionado e satisfeito pela decisão do líder - e concentrado no pedido, foi a despenda e de lá trouxe duas garrafas de vinho entre os braços, quase deixando-as cair, e largou-as de qualquer modo sobre a mesa - de bem perto e com cautela para que não quebrassem - e por fim, respirou fundo e sentou-se. Mas sequer recebeu alguma palavra dos supostos viajantes. Quem eram e o que queriam? Para Aldun, que jamais recebera vistantes importantes em casa - ainda mais humanos - aquilo era estranho. Alberi de certo modo estava planejando alguma coisa, de acordo com suas teorias de muitos anos de aprendizado. - Este lugar é como uma taverna - disse Godard, sorrindo. - Mas a diferença, é que é uma taverna particular! - e todos seus companheiros riram; até mesmo Alberi não pôde segurar uma gargalhada. - Quem dera se todas as tavernas fossem assim: servissem exatamente como nós mandássemos feito escravos! - e novamente, todos riram. "Taverna? Aqui não é taverna! E eu não sou escravo!" o pobre ignis tentou gritar, mas sua voz foi levada pela a deles. Eles não paravam com todo aquele papo e piadas sem importância; Aldun, então, após finalmente perder a paciência, gritou tão alto que até os vizinhos poderiam escutar: - Raios que o parta! Parem já com essa conversa inútil! Parem, parem imediatamente! Os cinco companheiros e Alberi o obedeceram e, de imediato, viraram-se para ele num silêncio brutal. E o jovem de dezoito anos, todo confuso, disse: - Vocês... vocês disseram que... Tinham um assunto importante para discutir! - Ah, sim, isso é verdade - disse Elduin. - Acho que já nos divertimos demais, senhores. Já que ele quer conversar - ele bateu com força o copo sobre a mesa e, de uma bolsa presa à sua cintura, retirou um pergaminho. Desenrolou-o com cuidado para que não caísse e revelou um mapa do continente do outro lado da Cordilheira Cinzenta. - Bem, jovenzinho, como seu senhor nos disse que você é bom com espada e tem uma boa inteligência... Eu acho que posso explicar-lhe o que nós queremos com você - ele colocou a mão sobre a Floresta do Silêncio, ao redor de uma vila chamada Aldebrand. - Há alguns anos, nós perdemos um livro nessa região. Era um livro muito importante para nós, que fazemos parte de uma irmandade que há muito tempo atrás dedicou-se especialmente à tarefa de protegê-lo. E há alguns dias, a magia renasceu nesse mesmo lugar, e um cavaleiro acabou morto. Os únicos que viram relataram ao rei do reino de Alestan, que é um idiota que abriu a boca e logo todos do continente saberão da má notícia. "Pelos Deuses" murmurou Aldun. A magia, há muito tempo extinta do mundo, ressurgira; ele ouvira boatos há algum tempo, portanto não acreditou, por ter sido dito por pessoas que lhe odeia. Mas agora, sabia que era verdade, pois até Alberi tinha dito-lhe no dia anterior (e o lorde era uma pessoa que o odiava). Mas afinal, de que irmandade aqueles homens falavam? Aldun começou a achar interessante a ideia de falar sobre isso, pois já que não podia sair mundo afora, podia conversar sobre as coisas, ao menos. - De que irmandade o senhor fala? - Somos conhecidos por Guardiões - disse Elduin, bufando. - Mas agora não somos conhecidos por nada; só por viajantes bem-humorados que só pensam e bebidas. Mas nós queremos retomar nossa honra perdida aquele dia naquela floresta, pegando novamente o nosso livro. Nosso objetivo, jovem, era proteger os últimos objetos mágicos quando os três antigos reis ordenaram a extinção total da magia - que, é claro, estava começando a se tornar algo vil. Mas o nosso objeto de total proteção, o livro que permitia ao seu portador aprender a magia, foi perdido na floresta, como eu disse. - E agora - Uhtred prosseguiu -, o lorde da cidade, Alberi, nos disse que você, Sr. Aldun, tem certa experiência com espadas. E como você é um ignis de cabelos negros, não poderá recusar nosso pedido. - E qual é esse pedido? - Aldun preocupou-se; o que poderiam pedi-lo? Alberi iria obrigá-lo, e ele não poderia recusar. "Maldita lei para nós, ignis impuros" ele murmurou. - Reis, nobres e viajantes dizem que o livro foi guardado pelo mago em Aritoth, a Cidade Morta. Dizem que a sorte está ao lado daqueles que entrarem com sete pessoas, e não mais, naquele lugar; e isto já foi dito até pelo Último Imortal. Aldun fez uma rápida contagem de todos. Com ele, era somente seis, não sete. - Aqui são seis - disse ele. - Falta um. - O outro é nosso companheiro, que nos aguarda do outro lado da cordilheira - disse Ulric. - E então, jovem. Irá conosco? "É, seria uma boa ideia sair numa longa viagem... Mas para morrer no fim? Não, obrigado". O pobre Aldun Grimbald não tinha escolha; Lorde Alberi poderia obrigar-lhe a fazer qualquer coisa, por mais horrível que pudesse ser. - Eu... não tenho escolha, certo? Os homens riram - era por isso que viajaram até Aelgar. Só lá eles encontrariam alguém que não tivesse escolha a não ser viajar com eles. Todos já sabiam que não seria alguém corajoso o suficiente para ir sem ordens, mas este era o único modo. - Exatamente, Sr. Aldun - disse por fim o silencioso Alberi, que permanecera calado desde quando entrara na casa. - Você não tem escolha. Como é um ignis impuro que ainda não completou vinte anos, e ainda faltam dois longos para isso, irá sair numa importante missão ao lado deles. Sabe que não pode recusar uma ordem de seu lorde. - Mas... - o jovem ignis tentou protestar, mas logo fora interrompido: - Não há nada de mas aqui. Eu sou seu lorde e mestre, e estou lhe enviando nessa missão. Você ouviu o que eles disseram sobre tudo isso. E eu, como alguém muito compreensível, tenho certeza que os outros humanos não iriam ajudá-los. Mas como eu penso em nossa terra, irei ajudá-los no que for preciso. Irá com eles, entendeu? Ainda relutante, Aldun respondeu: - Sim, senhor. - Então você já sabe do seu destino. E se não o cumprir, saiba que todo o continente estará avisado que você não deve ser visto sem ser com algum desses homens. Partirá com eles e não fará besteira. Entendeu? Aldun engoliu seco; sua vida estava mudando, mas não podia saber se era de pior para melhor ou de melhor para pior. Sempre quis sair numa longa viagem, mas com pessoas desconhecidas que tinham haver com a magia e com o feiticeiro? Infelizmente não tinha escolha. E por fim, respondeu: - Sim, senhor. E naquele dia, ele juntou tudo o que poderia levar na viagem obrigatória. Sua vida mudara num piscar de olhos.
Capítulo 2: A Floresta da Chama- Spoiler:
Após ser obrigado por Alberi, Aldun ainda não tinha forças para sair da cidade. Estava em casa, olhando talvez pela última vez sua pequena sala: a mesa redonda e bem arrumada, a lareira há muito apagada, seu novo tapete de couro comprado há poucos dias. Teria de deixar seu lar de 18 anos para trás; havia deduzido que nunca mais colocaria os olhos naquele lugar e que devia depositar tudo o que tinha na fé. E após sua sessão de tristeza e rancor, entrou na casa Elduin, apressado. - Já juntou suas coisas? Temos que partir. Não temos cavalos e ainda devemos andar até Porto Dourado, para embarcar num navio. Não somos loucos de passar pela cordilheira. Aldun forçou um sorriso e da mesa pegou sua pequena bolsa, que continha somente alguns pães ignis e garrafas de água. Mesmo que ainda estivesse extremamente hesitante, obrigou seu corpo a seguir Elduin para fora de casa. Aelgar era uma cidade incrível - pontes debruçadas e mal-feitas ligavam as várias ilhas sobre a lagoa, e no centro, havia uma cercada por uma muralha. Era a cidadela, onde Lorde Alberi vivia com seus poucos súditos. Mas não era para lá que devia seguir. Foi em direção ao norte, onde se dava na grande ponte que ligava a cidade com as colinas verdes e cheias de florestas. Ao olhar para o céu e observar o quão nublado estava, percebeu que aquele dia representava exatamente seus sentimentos. Após atravessarem a ponte e saírem da cidade, Aldun respirou fundo. O sofrimento havia iniciado. A Estrada Real, que atravessava todo o continente, levava a Porto Dourado, embora fosse cheia de bandidos. Por isso, escolheram o caminho mais difícil - a Floresta da Chama Verde. Fora assim nomeada pois, na aldeia em que existe no centro, uma chama verde ardia eternamente numa tocha; ninguém nunca soube o que poderia acontecer caso ela apagasse. Mesmo que o grupo pudesse sentir uma curiosidade sobre isso, parariam na vila somente para reabestecerem e talvez arrumar cavalos. Mas eles decidiram deixar isso de lado, no momento. Esperavam na estrada Uhtred, Ulric, Baldwin e Godard, ambos de pé lado a lado. - Estão atrasados - disse Baldwin. - Já passou de meio-dia e ainda estamos parados. Pegou todo o essencial, Aldun? - Sim - respondeu o ignis. - Nós não iremos pela Estrada Real, pois quando viemos nós passamos por ela e nossos cavalos foram roubados - disse Godard, sorridente como sempre. - Obrigado por lembrar, Godard - agradeceu Ulric. - Agora está na hora de partir - ele virou-se para o norte: havia uma alta colina esverdeada e cheia de árvores; aparentemente o que deviam subir. "Odeio subidas" murmurou Aldun. E por fim, eles começaram a longa caminhada. Elduin foi na frente, como era de se esperar, e Aldun era o último. O início da colina não foi nada difícil ou irritante para subir; mas após um tempo, carrapichos e matos tão altos que chegavam à cintura de todos começaram a surgir. Uhtred empunhou seu machado, demasiado afiado, e começou a cortar qualquer planta que aparecia em sua frente. Olhando para o sul, podiam ver Aelgar bem distante, pouco movimentada como sempre; ao oeste, vários arbustos que aparentavam terem sido plantados formavam um círculo com algo no meio - pelo menos isso era o aparente para todos - e mais para frente, via-se somente o fim da colina, com algumas amoreiras juntas lado a lado. Todos tinham vontade de ir até lá para pegar algumas amoras, porém não dariam o trabalho de atravessar o campo cheio de matos, arbustos e de pequenas rosas com muitos espinhos. Olhando para o leste, via-se a melhor parte da colina. Tinha somente alguns matos de poucos centímetros e samambaias pequenas, além de alguns carvalhos e castanheiras que cresceram agrupados. As botas de todos, ambas de couro, muitas vezes atraíam carrapichos que faziam eles pararem várias vezes para retirá-los. Mas o que irritava Aldun eram os matos que lhe alcançava à cintura: tinha uma enorme dificuldade para andar em meio a eles. E para a sorte do grupo, os altos matos foram substituídos por capins, que eram minúsculos. E uma trilha começou a surgir em meio a eles, muito antiga e quase indedectável, e quando Elduin percebeu, decidiu guiar o grupo em sua direção. Afinal ela devia levar à vila. Árvores mortas com os troncos cheios de musgos vieram a aparecer, e há poucos metros estava a Floresta da Chama Verde. E num ponto, quando alcançaram uma encruzilhada, a trilha ficou tão clara para quaisquer que fossem as direções que todos ficaram duvidosos por qual caminho seguir - dois iam para leste e oeste, mas tinham no fim uma curva que subia em direção à floresta. Caso permanecessem seguindo pelo norte, iriam permanecer ao lado das árvores mortas; e eles não desejavam isso. - Para qual caminho? - perguntou Godard, olhando para Aldun. - Você mora por aqui. Deve saber a direção. Pensativo, o ignis respondeu: - O problema é que não venho aqui há cinco anos, e naquele tempo não havia essa trilha e muito menos esse tanto de mato e árvore. Na verdade, a Floresta da Chama Verde era muito menor e nós podíamos ver com clareza qualquer coisa. Godard encostou numa árvore, e os outros sequer deram algum tipo de palpite. Baldwin e Ulric pareciam cochichar sobre algum assunto sem importância, enquanto Uhtred, como na maioria das vezes, permanecia calado olhando para o norte. Após alguns minutos, Elduin disse: - Não podemos ficar tão duvidosos. Vamos ir para o leste. - Oeste - retrucou Aldun. - Desculpe-me por isso, mas na entrada da floresta há algumas aceroleiras e macieiras - ele apontou. - Tem razão - o líder concordou. - Vamos seguir pelo oeste - e novamente foi na frente, guiando o grupo pela trilha. Após virarem a curva, depararam-se com várias samambaias misturadas com capim, o que acabou atrapalhando - não tanto - na velocidade da caminhada; afinal, algumas árvores que surgiam no caminho, caídas ou não, os fazia muitas vezes terem de dar uma pequena volta ao redor para voltar à trilha. E por fim, alcançaram a entrada da floresta, onde havia duas aceroleiras e uma macieira. Rapidamente Aldun retirou de sua bolsa um saco e pegou o máximo de acerolas e maçãs, assim como fizeram os outros. Apesar das árvores serem um pouco altas - para todos - eles ajudaram-se enquanto um segurava o pé do outro. Mas como não havia espaço para todas as acerolas e maçãs, saíram sem algumas, embora mesmo assim tivessem pegado muitas. Demoraram alguns minutos até que alcançassem metade do caminho, onde uma enorme variedade de arbustos e matos surgiram e tamparam a trilha; não conseguiam visualizar adiante, para ver o que viria em seguida. Troncos e galhos apareciam tortos a cada segundo, e todos fizeram questão de agir como Uhtred: empunharam as armas e começaram a cortar tudo o que aparecia no caminho. Mas Aldun não tinha espada; havia esquecido em casa. "Vão me matar por isso... Droga!" ele pensou. Estavam à cerca de trinta minutos da cidade de Aelgar, e não fariam questão de voltar por culpa do recém-chegado no grupo. Mas desfez o pensamento e voltou à prestar atenção no caminho difícil que lhe aguardava à frente. Raízes espessas e grandes surgiam em meio ao capim e samambaias, e às vezes Aldun era pego de surpresa e acabava por tropeçar. Apenas uma coisa lhe intrigava: várias árvores estavam caídas no caminho, portanto ainda vivas e com os galhos cheios de folhas. - Não acham isso estranho? - perguntou ele, enquanto ultrapassava um monte de madeira podre. - Isso? Isso o que? - perguntou Uhtred, que estava mais perto. - Essas árvores derrubadas; ainda estão vivas e foram todas cortadas. - Cortadas? - ele olhou para trás, mas sem sucesso ao tentar encontrar a raiz. - Tem certeza? - Sim! Sei diferenciar um tronco cortado de um que cai naturalmente. Saber diferenciar isso faz parte de uma das tarefas de ignis impuros. Mas eu acho que não é exatamente cortada - ele fez uma pausa para obter fôlego. - Digo, é cortada, mas parece ter sido arrombada de uma só vez. É um corte liso! Uhtred gargalhou, chamando a atenção dos outros. - Senhores, ele disse que as árvores desse lugar foram cortadas com um só movimento e que o tronco ficou liso. Todos riram, mas Elduin e Aldun, não; os dois notavam algo de diferente. Eram muitas árvores caídas ao longo do caminho, porém as que vieram mais à frente estavam derrubadas até a raiz - o que não ajudou para Aldun provar a verdade. Continuaram andando, com carrapichos agarrados nas botas e carrapatos na pele. Era uma caminhada desagradável, e não havia nenhum que não pudesse dizer o contrário - até mesmo Aldun, que já passara por ali antes. Talvez não exatamente no mesmo lugar, mas na mesma floresta. E a quantidade de árvores caídas somente aumentou. Desta vez, aparentavam ter sido arrancadas há poucos minutos. Um barulho estranho ressoava no ouvido de Aldun, mas estava muito distante e deduziu que não fosse nada demais; embora lhe fizesse pensar que era de árvores caindo. Estavam quase no fim do caminho, e não conseguiam enxergar casas ou alguma construção feita por seres vivos. E quando alcançaram o suposto final, nada viram exceto por um barranco, que descendo-o dava-se de volta na colina. - Seguimos pelo oeste, Aldun, e agora devemos voltar! Não há nada aqui! - disse Elduin, impaciente. O ignis respirou fundo. - Você podia ter decidido o contrário. E agora que veio por aqui, não pode me culpar. - Claro que posso! Você foi um tolo por sugerir isso... Tudo por culpa de frutas! Ulric, percebendo a situação, entrou na conversa: - Parem com isso! Não levará a nada. E para prevenirmos o que está derrubando as árvores, é melhor corrermos. Aldun franziu a testa. - Você acredita que algo está derrubando-as? O homem riu. - Claro que sim! Lá atrás talvez não, mas agora, quando eu vi tudo isso, mudei meu pensamento. - Vo-vocês dois... - gaguejou Godard. - Ve-vejam... - O que é? - perguntou Ulric, sem desviar da conversa com Aldun. Enquanto os dois concentravam-se no papo, o resto do grupo fitava assustado a direção de onde vieram. Ao percebê-los, Aldun e Ulric viraram-se - depararam-se com uma grande criatura roxa, que ficava de pé com duas patas e nas outras tinha grandes e afiadas lâminas, maiores talvez que um adulto. Tinha uma boca tão grande que os dentes não poderiam ser diferentes. Tinha pelo menos quatro metros de altura, e nenhum dos seis ali presentes seria capaz de detê-la. - Presssass! - a criatura rugiu e ergueu a longa lâmina presa à sua pata. Por mais assustado que o grupo estivesse, eles deviam agir. - Corram! - a voz de Uhtred ressoou na floresta. Todos foram em direção ao barranco, assustados, e sequer ligaram para a segurança do corpo. Apenas colocaram o pé na terra e começaram descer terra abaixo. Portanto perderam o equilíbrio e acabaram por continuar rolando, entre samambaias e capins. Até que por fim uma vala segurou-os, mas já estavam longe da floresta, novamente. - Droga... - reclamou Baldwin, atordoado. - O que foi aquilo? - Eu não sei - disse Elduin. - Mas presumo que a Chama Verde tenha apagado.
Última edição por FilipeJF em Qui Dez 27, 2012 2:30 pm, editado 2 vez(es) | |
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